Distopia#06 (Reboot)

Desaliviando os dedos envolta do pescoço, Doris soltou X-9 que desabou ao chão, depois a replicante se sentava em posição de lótus na chuva olhando para ela, tossindo sangue  e sem entender nada, a hacker tentava encontrar uma posição onde sua coluna parecesse menos emaranhada e achou ao apoiar as costas em um exaustor, com o corpo deitado. – Tá esperando o que… pra me mandar pra o Inferno? – Questionou-a, se contorcendo de dor – Sabe… eu sempre quis ser humana, até hoje. Mas depois que eu vi você, colocando sua especie em risco por um interesse pessoal, eu quis ser o que sempre fui. – Refletiu enquanto as gotas da chuva se acumulavam no rosto e escorriam desenhando o traço germânico  da face da replicante. – É… eu… julguei tanto você, e estava sendo mais humana do que eu… Você salvou o garoto, levou um tiro por ele e se preocupou com as pessoas isolando a luta no terraço da escola… enquanto eu… não me importei com ninguém além de mim mesma… – A garota baixou a cabeça, se não fosse a chuva a replicante veria as lagrimas escorrendo dos seus olhos. –  Me tornei o que mais detesto… – Doris se levantou, pegou a pistola, se ajoelhou diante a humana colocando a arma na mão dela e direcionou o cano contra sua tez. Surpresa X-9 não compreendia. – O que está fazendo?  – Te dando uma chance de escolha. Não sei porque você aceitou me caçar, mas deve ter seus motivos, por mais sombrios que sejam. Estou te dando a chance de completar o serviço. Ou, voltar a ser humana. – Doris voltava a fitar ela, sem medo da escolha que a humana tomasse. Ela porém tremula, mantinha o cano da arma sobre a testa da outra mulher, pensando, até que jogou a pistola para o lado. – Boa escolha, qual seu nome?X-9 – Foi a resposta. – Eu não me esquecerei deste dia, X-9, o dia que deixei minha vida nas mãos de uma humana e ela decidiu ser humana de novo. Aposto que você também não vai esquecer. Agora vá, mude de vida.

 

X-9 desceu as pressas as escadarias, correu o máximo que pode atravessando longos corredores brancos até cruzar o patio e chegar as vidraças quebradas por onde entrou. Caminhou bamba duas esquinas e dobrou os joelhos, exausta. Quando recuperou a consciência suas mãos estavam algemada no banco de trás do carro da policia. – A bela adormecida finalmente acordou. – Disse um policial. – Bela ou fera? – Zombou outro policial. – Eu posso explicar…Aah pode e vai. – Interrompeu o primeiro policial, girando a chave do carro, roncando o motor.  – E-eu não tenho advogados, quando chegarmos na delegacia eu posso ligar para alguém né? – Os dois policiais gargalharam, ela não entendeu nada. – Ora, é claro! – Duas ou três quadras a viatura entrou em um beco escuro e estacionou. – Chegamos na delegacia, princesa. – Retirada do carro o beco era afastado e escuro. – Isso só pode ser um tipo de brincadeira… – Foi quando o policial que dirigia bateu com força o cassetete no latão de entulhos ao seu lado, causando susto. – Parece que estou brincando? Olhe bem para mim, parece? – Com muito medo ela respondeu baixo. – Não…Ah, finalmente entendeu, princesa. Meu parceiro vai explicar sua situação. – O segundo policial caminhou até ela, falando agressivamente. – É o seguinte, encontramos a arma no seu casaco, você tem sangue, marcas de briga. As provas são claras.  Pague pelos danos a transtornos causados e a liberamos. Caso contrário será presa e sem direito a fiança.Pagar a vocês pelos danos causados na escola? Isso esta um pouco… errado… E vocês já estão me julgando e condenando sem ter um tribunal… – Antes de terminar ela levou um tapa no rosto que arrancou sangue. – Nós dizemos o que é certo ou errado! Nós condenamos e absolvemos. Onde o judiciário  não tem mais voz somos obrigados a fazer a lei. – Completou o segundo policial. – E por desacato a multa foi ampliada para… deixa ver… 300 mil Créditos.Mas eu não posso pagar!!!!  Hm….Não ha  nada que não seja negociável… Se for boazinha com nós dois a multa fica pela images (19)metade. Ahaha. – Falou o segundo policial abrindo o zíper da calça enquanto o primeiro a agarrava seus braços para trás. – SOCORRO!! – Gritou. – Pode gritar a vontade, ninguém vai te ouvir. E mesmo que ouça, o que farão contra dois policiais?  – Levou outro tapa, que a jogou entre um tonel que ardia em fogo e aos pés de uma sessão de seis vigas de aço industrial enfileiradas e chumbadas no solo em um lado e presa a uma parede na outra ponta que servia de sustento a um prédio do beco. O segundo policial abria o zíper também, um afastou suas pernas, o outro a imobilizou. Ela sentiu as costas contra o chão sujo e úmido, envolta  de embalagens plásticas descartáveis de fastfood e garrafas pets, um fio fino de suor escorreu por sua testa. Nesse ambiente hostil parou de gritar, desistiu de se remexer, exausta da surra no terraço, não havia mais força pra relutar. Os porcos riam e zombavam embaixo da chuva, ela apenas fechou os olhos e virou o rosto. – Policiais corruptos são meus favoritos! – A voz desconhecida antecedeu o estrondo do peso no capô do carro policial estacionado no beco.  A silhueta contra a luz amarela do poste impedia a identificação, mas pelas formas se via as curvas de uma mulher. Ela puxou pelo colarinho o policial que tentava entrar nas calça de X-9, e o jogou com facilidade para cima, apenas com um braço, golpeando-o ainda no ar com um soco o meio das suas costas. O policial se dobrou envolta do punho e o barulho de algo vivo se quebrando foi assustador. O homem não teve tempo de gemer e o corpo inerte caiu no teto da viatura, espatifando as sirenes. O outro soltou X-9 e tentou sacar a arma, por estar ajoelhado perdeu precisos segundos, que custou uma fileira de dentes. Não entendeu se o que levou foi um chute ou um murro, mas o que tenha sido deixou um rastro vermelho na parede de cartazes rasgados que balançavam ao vento. Depois foi pego com a mesma facilidade que o primeiro e jogado com violência contra as vigas de aço do beco. Esse gemeu mas o gemido foi logo abafado com uma mão de dedos finos envolvendo o pescoço. Apesar de finos eram fortes, ela aproximou seu rosto do homem e disse; – Leve seu namorado daqui e suma. Se eu ver vocês tentando  molestar ou violentar mais alguém por aí, não serei tão boazinha. Vaai! – E soltou o porco arremessando contra o capô. Ele seguiu a ordem sem dizer nada, juntou o colega adormecido para dentro do autómovel e bateu em retirada. – Você está bem, X-9, eles chegaram a fazer algo? –  As lagrimas quentes embaçavam a visão a ponto de não reconhecer o rosto, mas logo em seguida sua salvadora a ergueu e limpou seu rosto machucado.  – Doris… nunca pensei que ficaria tão feliz de te ver de novo…. e nem tão cedo… Tirando os dois tapas e o susto eles não fizeram mais nada não.Que bom. – Respondeu, mudando a voz, voltando ao timbre conhecido. – Por que me seguiu, e por que salvou quem tentou te matar? – Interrogou Doris. –  Você é uma boa pessoa, se fosse ruim teria atirado na minha cabeça lá no terraço da escola. Quanto ao te seguir, bem, você trabalha fornecendo informações, eu preciso de uma. – Qual?Quem é o cliente que te contratou para me matar? – Só fui instruída a ir a um prédio, de uma porta me deram essa arma, munição e suas informações, não existiu contato pessoal algum. Queria poder te ajudar, Doris. – Pensativa a replicante pensou por uns cinco segundos. – Na verdade você ainda pode. Me leve até esse prédio. E não se preocupe, pagarei pela informação.

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